A Quaresma, é o tempo litúrgico que se prolonga de Quarta-Feira de Cinzas até à Quinta-Feira Santa. A palavra Quaresma significava inicialmente, o 40° dia antes de Sexta-Feira Santa e correspondia ao 1° Domingo da Quaresma, isto é, o 1° dos quarenta dias de penitência que antecediam a Páscoa. Mais tarde, a mesma palavra passou a designar, já não só esse dia, o 40°, mas o conjunto dos quarenta dias. A ideia de Quaresma remonta à prática da penitência pública que entrou em uso, em várias Igrejas, nos séculos IV e V. Relaciona-se também com a organização do Catecumenato, tempo de preparação intensa dos convertidos para o Batismo. Na realidade, a Quaresma terá nascido da necessidade de uma renovação interior que a comunidade cristã sentia para melhor celebrar a Páscoa. Existem testemunhos da vigência deste período de preparação, em Igrejas Orientais, já no século IV. Em Roma este período era, inicialmente, de três semanas nos fins do século IV, e passou a ser de seis no século VII. O número 40 tinha já um profundo sentido religioso :
* Moisés esteve 40 dias no Monte Sinai antes de receber as Tábuas da Lei, (Êx. 34,28).
* Elias fez 40 dias de jejum na sua caminhada para a teofania do Monte Horeb. (l Reis 19,8).
* Os Israelitas estiveram 40 anos no deserto antes de chegarem à terra prometida. (Livro do Êxodo).
* Jesus jejuou 40 dias no deserto antes de iniciar a sua Vida Pública. (Mt.4,2).
A partir do século VI o jejum tornou-se uma penitência quaresmal de tal maneira importante que a Quaresma passou a identificar-se com uma quarentena de jejum, com início em Quarta-Feira da semana da Quinquagésima, que passou a ser designada por Quarta-Feira de Cinzas devido à introdução, nessa época, do rito da imposição das cinzas. Era também nesse dia que os penitentes públicos começavam a penitência que lhes era imposta para se reconciliarem com a Igreja, na Quinta-Feira Santa. Além disso, nos séculos IV-V, em Roma, uma vez organizado o Catecumenato - preparação dos convertidos que iriam receber o Baptismo na Vigília Pascal - a Quaresma passou a ser o tempo ideal para essa preparação. Assim se compreende a profunda relação que existe entre muitos ritos e textos litúrgicos da Quaresma e o Batismo. Unida aos penitentes e aos catecúmenos, era toda a Igreja que se preparava para celebrar o Mistério Pascal, centrando essa preparação na celebração da Eucaristia. Esta celebrava-se, inicialmente, apenas aos Domingos e nos aniversários dos mártires. Depois, passou a celebrar-se, em Roma, também às Quartas e Sextas-Feiras da Quaresma, a partir do século VI, depois também às Terças-Feiras e aos Sábados e, no século VIII começou a celebrar-se também nas Quintas-Feiras. Estas cerimónias litúrgicas tinham lugar, cada dia, numa Igreja diferente, chamada Estação, ou Igreja Estacional. A Quaresma surge-nos, pois, como um tempo de penitência durante o qual os Catecúmenos se preparavam para o Baptismo, os penitentes públicos para a reconciliação com a Igreja e toda a comunidade cristã para a celebração do seu Baptismo e para a participação no Mistério Pascal. É esta penitência que explica a cor roxa dos paramentos e a ausência do Glória e Aleluia na Liturgia. Na disciplina catecumenal, que o Concílio Vaticano II quis ver restaurada, a Quaresma corresponde à fase inicial da preparação dos candidatos que vão receber o Baptismo na Vigília Pascal. É fácil descobrir no encadeamento das celebrações litúrgicas da Quaresma a pedagogia catecumenal e baptismal. Hoje, a nós, fiéis já baptizados, a Quaresma aviva-nos a consciência da vocação e missão de filhos de Deus e de cristãos pelo Baptismo, preparando-os para a renovação das promessas baptismais na Vigília Pascal. Por outro lado, embora a disciplina da penitência pública tenha caído em desuso, a Quaresma é um tempo forte de revisão de vida e de ascese, de luta contra o mal e de exercício das virtudes cristãs, de desprendimento das coisas deste mundo e da partilha com os outros. Num sentido amplo, tudo isto faz parte da penitência quaresmal conforme nos recomenda o Catecismo da Igreja Católica :
1438. - Os tempos e os dias de penitência do Ano Litúrgico (tempo da Quaresma, cada sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática penitencial da Igreja. Estes tempos são particularmente apropriados para os exercícios espirituais, as liturgias penitenciais, as peregrinações em sinal de penitência, as privações voluntárias como o jejum e a esmola, a partilha fraterna (obras caritativas e missionárias). Durante este tempo Quaresmal, em muitas Igrejas e Capelas Públicas, organizam-se Pregações Quaresmais de preparação para o cumprimento dos dois Preceitos da Igreja : Confessar-se ao menos uma vez cada ano e Comungar pela Páscoa da Ressurreição. É este o tempo oportuno para cada um de nós fazer uma revisão de vida e de preparação para a celebração do Mistério Pascal.
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