26 de março de 2013

DOMINGO DE RAMOS - PORTAL DE ENTRADA DA SEMANA SANTA

           Domingo de Ramos, com hosanas, saudações e louvores, prefigura a vitória de Cristo sobre a morte e o pecado. É o portal de entrada para a Paixão de Cristo: a Semana Santa inicia-se com ele. Que lições ele nos traz? Que frutos e graças dele podemos tirar?

O Domingo de Ramos é a comemoração litúrgica que recorda a entrada de Jesus na cidade de Jerusalém onde Ele iria celebrar a Páscoa judaica com seus discípulos.

Ele é o portal de entrada da Semana Santa. É no Domingo de Ramos que se inicia a Semana da Paixão. É o dia em que a Igreja lembra a história e a cronologia desses acontecimentos para dele tirarmos uma lição.

Um Rei entra na cidade montando um jumento.

Já desde a entrada da cidade, os filhos dos hebreus portavam ramos de oliveiras e alegres acenavam com eles, estendiam mantos no chão para Jesus passar sobre eles. Jesus entrou na cidade como Rei!

Até parece que era um desejo d'Ele que fosse assim, pois, a cena em que tudo transcorre reproduz a profecia de Zacarias: o rei dos judeus virá. Exulta de alegria, filha de Sião, solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém; eis que vem a ti o teu rei, justo e vitorioso; ele é simples e vem montado num jumento, no potro de uma jumenta.(Zc 9,9)

Embora Jesus montasse um simples jumento, o cortejo caminhava, alegre e digno. Na expectativa de estar ali o Messias prometido, Jerusalém transformou-se, era uma cidade em clima de festa.

E Ele era aplaudido, aclamado pelo povo: "Hosana ao Filho de Davi: bendito seja o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel; hosana nas alturas". Isto aconteceu alguns dias antes de que Jesus fosse condenado à morte, quando os ecos dos gritos de "hosana" já se misturavam ao clamor de insultos, ameaças e blasfêmias que o levariam a sua Paixão redentora.

Que tipo de Messias queriam aqueles judeus?

Da entrada festiva como rei em Jerusalém até o deboche da flagelação, da coroação de espinhos e da inscrição na cruz (Jesus de Nazaré, rei dos Judeus), somos levados a perguntar: Que tipo de rei aquele povo queria? E que tipo de rei era Jesus? Nosso Senhor era aclamado pelo mesmo povo que o tinha visto alimentar multidões. Era aplaudido por aqueles que o viram curar cegos e aleijados e, ainda há pouco, tinham presenciado a ressurreição de Lázaro.

Impressionada com tudo isso aquela gente tinha a certeza de que este era o Messias anunciado pelos Profetas. Mas, aquele povo era superficial e mundano, julgava que Jesus fosse um Messias político, um libertador social que fosse arrancar Israel das garras de Roma e devolver-lhe o apogeu dos tempos de Salomão. E nisso estavam equivocados, enganados: Ele não era um Rei deste mundo!

Seus corações apreciavam Jesus de modo incompleto

A entrada de Jesus em Jerusalém foi uma introdução para as dores e humilhações que logo Ele sofreria abundantemente: a mesma multidão que o homenageou movida por seus milagres, virou-lhe as costas e pediu sua morte.

No Domingo de Ramos fica patente como o povo apreciava Jesus de um modo incompleto. É verdade que O aclamaram, porém, Ele merecia aclamações incomensuravelmente superiores. Merecia uma adoração amorosa, bem diversa da que lhe foi dada!

No entanto, cheio de humildade, lá ia Nosso Senhor Jesus Cristo sentado num burrico, avançando em meio à multidão ruidosa, impulsionando todos ao amor de Deus.

Só uma pessoa O entendeu naquela hora

Em geral, as pinturas e gravuras apresentam Nosso Senhor olhando pesaroso e quase severo para a multidão. Para Ele, o interior das almas não oferecia segredo. Ele percebia a insuficiência e a precariedade daquela ovação.

Apenas uma pessoa percebia o que estava acontecendo com Jesus e sofria com Ele. E essa pessoa oferecia sua dor de alma como reparação de seu amor puríssimo a Nosso Senhor: era Nossa Senhora.

Mas, ...que requinte de glória para Nosso Senhor! Era o maior deles porque Nossa Senhora vale incomparavelmente mais do que toda a Criação. Naquelas circunstancias, Maria representava todas as almas piedosas que, meditando a Paixão de nosso Salvador, haveriam de ter compaixão e pena d'Ele. Almas que lamentariam não terem vivido naquele tempo para poderem, então, ter tomado posição ao lado de Jesus.

Domingo de Ramos em minha vida?

Existe um defeito que diminui a eficácia das meditações que fazemos. Este defeito consiste em meditar os fatos da vida de Nosso Senhor e não aplicá-los ao que sucede em nós ou em torno de nós.

Assim, por exemplo, a nós espanta a versatilidade e ingratidão dos judeus que assistiram a entrada de Jesus em Jerusalém. Nós os censuramos porque proclamaram com a mais solene recepção o reconhecimento da honra que se deveria ter ao Divino Salvador e, pouco depois, O crucificaram com um ódio tal que a muitos chega a parecer inexplicável.

Essa ingratidão, essa versatilidade para mudanças de opinião e atitudes não existiram apenas nos homens dos tempos de Nosso Senhor! A atitude das pessoas contemporâneas de Jesus, festejando sua entrada em Jerusalém e depois abandonando-O à mercê de seus algozes, assemelha-se a muitas atitudes que tomamos.

Muitas vezes louvamos a Cristo e nos enchemos de boas intenções para seguir os seus ensinamentos, porém, ao primeiro obstáculo, nos deixamos levar pelo desânimo, ou pelo egoísmo, ou pela falta de solidariedade e, mais uma vez, por esse desamor, alimentamos o sofrimento de Jesus.

Ainda hoje, no coração de quantos fiéis, tem Nosso Senhor que suportar essas alternativas, essas mudanças que balançam entre adorações e vitupérios, entre virtude e pecado? E estas atitudes contraditórias e defectivas não se passam apenas no interior de alma de cada homem, de modo discreto, no fundo das consciências: Em quantos países essas alternações se passam e Nosso Senhor tem sido sucessivamente glorificado e ultrajado, em curtos intervalos espaços de tempo?

Uma perda de tempo: não reparar as ofensas a Nosso Senhor

É pura perda de tempo nos horrorizarmos exclusivamente com a perfídia, fraude e traição daqueles que estavam presente na entrada de Jesus em Jerusalém.

Para nossa salvação será útil refletirmos também em nossas fraudes e defeitos. Com os olhos postos na bondade de Deus, poderemos conseguir a emenda e o perdão para nossas próprias perfídias. Existe uma grande analogia entre a atitude daqueles que crucificaram o Redentor e nossa situação quando caímos em pecado mortal.

Não é verdade que, muitas vezes, depois de termos glorificado a Nosso Senhor ardentemente, caímos em pecado e O crucificamos em nosso coração? O pecado é um ultraje feito a Deus. Quem peca expulsa Deus de seu coração, rompe as relações filiais entre criatura e Criador, repudia Sua graça.

E é certo que Nosso Senhor é muito ultrajado em nossos dias. Não pelo brilho de nossas virtudes, mas pela sinceridade de nossa humildade nós poderemos ter atitudes daquelas almas que reparam, junto ao trono de Deus, os ultrajes que a cada hora são praticados contra Ele. As lições do Domingo de Ramos nos convidam a isso. (JG)

Fontes:
Dom Eurico dos Santos Veloso - O significado do Domingo de Ramos - CNBB -29 de Março de 2010
Felipe Aquino - O significado do Domingo de Ramos - Vida Eclesial - 30/03/2007D.
Javier Echevarría - Domingo de Ramos: Jesus entra em Jerusalém
Plinio Corrêa de Oliveira - excertos

11 de março de 2013

RUMO À PERPÉTUA FELICIDADE

A cada episódio da História se observa que os homens, quase ininterruptamente, brigam, litigam, guerreiam por algo. Às vezes o objetivo da luta parece ser uma coisa simples como alimento e água; outras disputas acontecem por causa de territórios; em outras ainda se percebe o desejo da glória e da honra.

A gama de lutas é incalculável e vai desde as disputas internas e individuais - por exemplo, quando alguém tem que vencer um obstáculo que está dentro de si - até disputas mundiais.

Tudo isso ocorre porque a "vida do homem sobre a terra é uma constante luta" (Job 7, 1). Luta por alimento? Sim, pois todos os dias milhares de pessoas pedem a Deus: "dai-nos hoje nosso pão de cada dia" (Mt 6,11) Mas como "nem só de pão vive o homem" (Dt 8, 3) Poder-se-ia dizer que todas as contendas existentes têm, em última análise, um único e específico fim: a felicidade.

Se é verdade que o ser humano não pode viver muito tempo sem alimentar-se ou sem beber água ainda é mais verdadeira a afirmação de que nenhum homem vive sem buscar a felicidade. Cada cálculo, ato e decisão do homem são norteados pelo desejo insaciável de alcançar a felicidade.

E daí decorre todas as pugnas do homem. Uns querem ser ricos e famosos, vão, portanto, buscar nisso a felicidade. Outros pensam encontrá-la pela força e pela tirania. Também varia quase ao infinito os anseios dos homens.

Muitos conseguiram grandes riquezas, outros foram importantes governadores, contudo quais foram realmente felizes e possuidores de uma felicidade "intensa" e, sobretudo, perpétua, eterna e absoluta?

A felicidade perpétua: alvo de todos os homens. Mas muitos cometem o erro de não identificar bem o que é a felicidade perpétua e acabam trocando-a por uma felicidade aparente, tantas e tantas vezes mentirosa.

O que é então a perpétua felicidade?

No ano de 205, o Imperador Severo organizou uma perseguição contra os católicos. Julgava ele que a felicidade se encontrava nos prazeres desta terra e vendo-se contrariado nos seus desejos pelo modo de vida dos cristãos ordenou uma cruel perseguição.

Não sabia ele que perseguia aqueles que eram herdeiros da perpétua felicidade. Entre os quais se encontravam duas mulheres: Perpétua e Felicidade.

Perpétua tinha 22 anos quando foi aprisionada, era romana de boa posição social e que ainda amamentava seu pequeno filho. Felicidade estava grávida e era escrava de Perpétua. Porém o desejo de chegarem à perpétua felicidade unia mais Perpétua a Felicidade do que o contrato senhora e serva.

As duas prisioneiras por amor à religião Católica foram fiéis e não aceitaram sacrificar aos ídolos. Por isso, a única atitude das autoridades civis foi deixá-las aprisionadas até que chegasse o dia da condenação.

Na prisão, junto com seus companheiros de infortúnio presente, rumo à eterna bem-aventurança, aquelas valentes mulheres aproveitavam para crescer no conhecimento e amor a religião de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Homem-Deus, a quem elas sabiam que era a Felicidade. Não só o amor aumentava, mas também as dificuldades: Perpétua era frequentemente instigando por seu pai pagão, a quem ela amava de verdade, a renegar sua religião. Além disso, via com pesar que se separaria de seu querido filho. Felicidade por sua vez estava prestes a ser mãe, contudo não poderia se rejubilar por muito tempo pela presença do filho. Estes e outros muitos tormentos passavam pelas almas das duas prisioneiras.

Porém, resolutas a obter a Felicidade Perpétua pediram forças a Deus para chegarem até o holocausto: Perpétua era favorecida com visões consoladoras, que ficaram registradas. Felicidade teve seu filho, mas soube desapegar-se dele quando chegou o dia da condenação, bem como Perpétua que não cedeu às investidas do pai e não se apegou ao próprio filho.

No dia marcado para se cumprir a sentença de morte todos os prisioneiros pareciam que iam para uma festa solene, tal era a formosura de suas faces.

Chegaram ao anfiteatro, lugar de chacina onde tantos já haviam sido violentamente mortos pelas feras. A cada prisioneiro competia uma besta diferente: javali, leopardo, urso. Uma vaca selvagem seria o instrumento de martírio de Santas Perpétua e Felicidade.

As duas entraram em público de maneira nobre e distinta e mesmo que Felicidade fosse escrava sua dignidade de cristã lhe concedeu grande pompa e distinção. O animal feroz se precipitou sobre Perpétua que caiu por terra, mas logo se reergueu, arrumou os cabelos e as vestes, como se desdenhasse a morte, e juntou-se a Felicidade que já havia sido atacada para esperar um novo golpe do animal. Contudo, por uma razão inesperada toda a plateia gritava dizendo que era suficiente.



Os responsáveis pelo massacre dominaram a fera e retiraram as duas da arena. Um pouco surpresas pelo sucedido as duas santas não estavam satisfeitas por não terem sido mortas, afinal estavam a um passo da eterna bem-aventurança: a felicidade total e eterna. Por que isto não se consumou?

Mas logo se viram atendidas nos seus anseios. As duas foram conduzidas a outro lugar. Ali um verdugo degolou Santa Felicidade.

O carrasco de Santa Perpétua errou o primeiro golpe e foi preciso que a própria santa esticasse melhor o pescoço para facilitar o trabalho do assassino.

As duas santas deram o exemplo de que em nada se encontra a felicidade verdadeira e perpétua senão no fazer a vontade de Deus custe o que custar: dinheiro, honras, glórias, poder, qualquer coisa, pois apenas Deus é capaz de saciar a sede de felicidade que o ser humano tem da felicidade.

(Gaudium Press)